quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Porto Alegre 40 graus


Terça feira, cinco da tarde, sol alto e a cidade vazia. Passo pela Redenção, tem pouca gente, e vejo um homem gordo correndo sem camisa. Comento com o motorista do táxi que o cara deve ser maluco. Ou suicida. Ele não responde. Está mal humorado e não lhe tiro a razão. Não dá para ser feliz em Porto Alegre. Não no verão.
Queria ir para o clube, mas a imagem da piscina sopa lotada de crianças me faz mudar de ideia.
Quase chegando em casa, peço que me leve para o shopping. Decido pegar um ar condicionado e um cinema, de graça. O taxista parece ficar contente com o aumento da corrida, e começa a conversar. Conta que a mulher está na praia com os filhos. Eles tem uma casinha em Quintão. Ele trabalha de segunda a quinta, em janeiro e fevereiro. Fim de semana é na praia, cerveja, churrasco, amigos. Ela fica por lá, de boa- ele fala bem assim- de boa, com as crianças e a sogra, até as aulas começarem.
Penso no tempo em que era isso mesmo, a maioria das mulheres passava as férias na praia, torrando ao sol, cabelos ao vento, o nariz até descascava. Dois longos meses, com financiamento e sem preocupação, enquanto o marido ralava na cidade forno. Literalmente suava a camiseta. E aprontava também, reza a lenda. Mas tudo tem uma compensação, não tem?
São raras hoje, mas algumas ainda conseguem. Olho a foto que a Claudinha postou, é a quinta essa semana. Já teve a clássica na rede, o jogo de cartas com bolinho de chuva, as bicicletas. A de hoje é na praia, céu azul sem nuvens, com legenda: dia perfeito, sem vento. Não importa que o mar seja marrom e gelado- eu daria tudo por um mergulho agora.
Aí lembro que tenho plantão no fim de semana. Que não tenho casa na praia. Que não tenho sequer um marido.
Chegamos rápido, o trânsito está bom.O relógio na esquina do shopping não marca hora nem temperatura. Mas deve estar uns cinquenta graus dentro desse táxi. No mínimo.

Dani Altmayer

Texto para a oficina de crônicas SANTA SEDE módulo de verão
PORTO ALEGRE SOA ASSIM

2 comentários:

  1. Tua capacidade de transformar algo simples, como uma corrida de táxi, em um texto interessante, agradável; nossa, é demais.

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