Regar as flores
ver brotar as mudas
silêncio de sementepássaro que não voa
Atrás do parapeito a cortina
distorce o horizonte a névoacomo na arca
sobrevivênciaPassei a noite com
Água pelo pescoço
Ele dissenenhuma resoluçâo foi cumprida
ainda que nenhuma tenha sido feita
as palavras seguem de férias nalguma
praia de águas mornas e vento ameno
enquanto eu trabalho sob os arranha-céus
sobre o asfalto quente alguém tem que
ainda assim as promessas de fevereiro
os últimos suspiros do verâo e suas delongas
na minha cidade o céu se pôe infinito
as nuvens estâo muito perto
quase dentro
sinto outras saudades e tudo bem assim
também é bonito
Tua visão de mundo me enche de orgulho. Tua trajetória, idem. Em especial neste ano que passou, de tantas mudanças ( que tu tirou de letra), tantos desafios e êxitos. Ter acompanhado teu crescimento foi um privilégio e uma alegria, e que bom que é estar do teu lado e compartilhar mais esse marco tâo importante.
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida, uma nova etapa começa, diferente, desafiadora, mas que coisa linda é ver que tu tem a base e todas as ferramentas para construir uma bela história. Que tu possa contar comigo, quero estar por perto, por muitos capítulos ainda.
Uma vez, aos 8 anos, tu me disse que eu tinha sorte de te ter como filho. E nâo é que tu tinha razão?
Parabéns, JP. Tu é um baita cara. Minha pessoa preferida no mundo e o advogado mais gato de 2024. Te amo.
a seca mata a enchente mata a guerra
mata mais e quem não morre tem sede tem fome tem medo o medo mata o ódio mata se não mata fere sangra arde dói queima inunda a vida esse frágil fio esse frágil rio a desesperança mata se não mata fereÉ tudo tão branco aqui. Eu acho bonito. Vocês, as enfermeiras, os doutores, são todos muito simpáticos. Nunca estive num hospital antes. Pari os cinco em casa mesmo. A Tonha que me ajudava. O marido ou tava fora pescando, ou na cachaça. A cachaça foi que matou ele, sabe? Morreu cuspindo sangue, nos meus braços. Fiz a cova na beira do rio, pode não parecer agora, mas esses braços tinham força. Foi pouco antes daquela enchente, não lembro o ano. Os meninos já tinham se ido, um para o colo de nosso senhor, o anjo Joaquim, os outros para a capital. Tudo macho, é assim, tivesse parido alguma menina não estava sozinha agora. Tem neto que não conheço. Desculpa se falo demais, tanto tempo que a Tonha se foi, era eu e os cahorros, as galinhas, o gato Tomé. Com o gato Tomé eu conversava bastante. Fiquei triste quando se foi, enterrei do lado do marido. Acho que gostava mais do gato que do Zé. Homem suga a gente, sabe? Ainda mais quando é cachaceiro. Essas rugas aqui, você pensa que é do sol, é da lida na roça. Que nada. Pode não parecer agora, mas eu era a mais bonita da vila. Saí de casa com 15 anos, atrás de homem pescador. Homem pescador não presta, a mãe dizia. Plantei milho e criei galinha a vida toda. Nunca bebi uma gota, tinha o corpo forte que só vendo. Meu vício era só a palha mesmo. Gostava de fumar na varanda, vendo o dia acabar, ouvindo rádio às vezes, às vezes ouvindo a tristeza do rio. Agora os doutores falam que essa doença é disso. Eu acho que é de outra coisa, sabe. Que eu tô magrinha assim é de saudades.
É tudo tão branquinho. Mas é bonito.
Texto para a oficina de escrita
Imagem: Entre folhas, óleo sobre tela, de Augusto Vieira